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Manhouce no concurso “A Aldeia Mais Portuguesa de Portugal” (1938)

O concurso “A aldeia mais portuguesa de Portugal” foi organizado pelo Secretariado de Propaganda Nacional, em 1938. A ideia deste empreendimento surgira a António Ferro na sequência da participação na exposição de Genebra: «Os bonecos [miniaturas trajadas segundo padrões regionais] já não nos satisfaziam. Queríamos vê‐los mexer, cantar, dançar. Foi então que nos acudiu esta ideia poética, aparentemente fantasista da ‘aldeia mais portuguesa de Portugal’.» (Ferro 1940, 81). António Ferro presidiu ao júri nacional, constituído também por  Fernanda de Castro,
Augusto Pinto, Gustavo de Matos Sequeira,
Luís Chaves, Armando Leça e Cardoso Martha. O concurso inseriu‐se numa estratégia de reação à mudança pela idealização de uma cultura popular, com referentes num quotidiano rural «domesticado». O poder central teceu uma rede com vários níveis de profundidade, envolvendo todos os estratos da sociedade, numa cadeia que atuou de cima para baixo, desde os mais altos representantes do SPN (António Ferro, presidente do júri) ao aldeão mais simples. Às autarquias provinciais foi solicitado que selecionassem os seus folcloristas locais para coordenarem as representações do folclore das aldeias concorrentes. Ao mesmo tempo que assegurou o empenhamento das autarquias provinciais na preparação do concurso, o SPN diligenciou no sentido de divulgar esta iniciativa dentro e fora do país. Para isso convidou jornalistas nacionais e estrangeiros (Villeboeuf, belga; Edith Snow, americana; Hans Guelmyden, sueco), para acompanharem o júri na sua digressão pelas aldeias concorrentes. A imprensa fez eco do Concurso e disseminou junto dos seus leitores o ideário que presidiu à realização. Terminada a «ronda patriótica», o Jornal de Notícias perguntava: «até onde foi possível descobrir, na alma rubra do povo, os vestígios de uma Pátria que, apesar de tudo, se obstina em manter íntegras as suas tradições e costumes?» (1938, 7).

O concurso decorreu ao longo de várias etapas, duas das quais principais: a primeira, de seleção de aldeias, elaboração de um relatório e preparação de um mostruário vivo das atividades desenvolvidas na aldeia, desde as indústrias artesanais, produtos agrícolas, gastronomia, com a constituição de um rancho com trajes, danças e cantigas regionais; a segunda, de «inspeção» do júri nacional, que se deslocou às aldeias para esse m. O impacte deste evento sobressai nas palavras de Serafim da Costa, um elemento do Rancho de Manhouce, uma das aldeias concorrentes: o concurso foi «o acontecimento» da aldeia, foi «o início do folclore de Manhouce» (Serafim da Costa 1938). Monsanto foi a aldeia vitoriosa.

José Santos

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