# Portal do Inferno

Situado no cume que separa duas depressões escarpadas, a novecentos metros de altitude, é mais do que um miradouro para a Serra de São Macário ou para a Serra da Freita – é um marco que provoca um sentido de mistério misturado com uma certa angústia vertiginosa. A começar pelo nome. Quer no portal, que nos sugere uma passagem entre dimensões, quer no inferno, que parece querer transmitir, num substantivo, a ideia de, a partir dali, descermos ao infra, às entranhas, que nos habituámos a ligar às terras do demónio.

Conta-se mesmo, em jeito de lenda e de aviso, que o diabo se esconde por aquelas frinchas, e não deixa de ser curioso que esta porta celeste se encontre, precisamente, na fronteira entre o distrito de Viseu e o distrito de Aveiro.

Visto de baixo há uma sensação do que é o inatingível, um maciço de xisto onde de alguma forma conseguiram desbravar caminho, e um conjunto de linhas de água a formar um quadro que o povo apelidou de Garra por parecer um alinhamento de dedos saídos da pedra (provavelmente, a mão do diabo). Visto de cima, damos com dois vales gémeos, um para sudoeste, outro para nordeste, separados à nascença por este monstro árido.

A sul, mais à frente, escondida numa fossa para onde um montão de outras serras descem, encontra-se Drave, a aldeia mágica. Será o remate perfeito para completar todo o misticismo que esta cordilheira oferece.